sábado, 2 de maio de 2009

UMA CRÍTICA EM FORMA DE POEMA

GOUVEIA DE HÉLIAS também se vale de textos-poemas onde é crítico ferrenho da violenta escalada colonialista norte-americana:


FOGO E FLAMA OU A DESCOBERTA DO PRÉ-SAL

Gritaram?! Festejaram?

Anunciaram aos quatro ventos
a descoberta de mananciais petrolíferos
à sombra do Cruzeiro do Sul, cuja generosa extensão
somente os braços bem abertos do Cristo Redentor
podem-nos dar tênue idéia?!

Anunciaram?! Propagaram?! Então nada mais há a fazer!

Quem já esqueceu as tocantes imagens de chorar, imagens de refletir, dos milhares de afegãos mortos, tombados na argila ancestral de sua aldeia, ajeitados em pares diminutos, como dilaceradas calungas? E a histórica Bagdá com seus edifícios esfacelados, esgueirando-se dos mísseis, à beira da inanição?

Quanto a nós, se propagaram aos quatro ventos, nada mais há a fazer. Ao menos nos acautelemos. Armemo-nos de nossas melhores suspeitas contra aqueles que virão, porque com certeza hão de vir,

Pois já montam seus corcéis e do alto do Cruzeiro do Sul
posicionam seus satélites, rabiscam estratagemas de guerra
e à luz da estrela D’alva decodificam nossos gritos
e nos espiam!


Gouveia de Hélias



AS TORRES DE SETEMBRO


Arrogantes nos céus de Nova York as torres gêmeas
num ato legítimo de guerra desapareceram.
Então veio a ordem para que lamentássemos
.

Mas já havíamos chorado demais por tantas dores a nós infligidas.
Derrubados tantas vezes...

Os sonhos de uma Cuba livre eram maiores que as torres de Setembro,
mas buscaram derrubar.
Derrubaram Chile
Che
Camboja

E que dizer das bombas de napalm derrubadas abrasivas e leitosas
sobre o dorso tenro da juventude vietnamita?

Chorar? Não! Não temos lágrimas!

Símbolos do consumismo capitalista as torres gêmeas logo se reerguerão.
Não terão o mesmo destino de Hiroshima,
nem a amarga sorte de Nagasaki,
dois buracos negros na consciência imperialista.
Duas crateras
l a r g a d a s
r a s g a d a s
i m e n s a s
p e r d i d a s.

Chorar? Não! Não temos lágrimas!


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